Em meio às críticas pela tímida participação do Governo Federal na COP-26, realizada em Glasgow, na Escócia, a exposição sobre o projeto de produção de hidrogênio verde no Ceará pode ser considerado o grande destaque brasileiro no evento, avaliam especialistas do setor de reciclagem e educação ambiental. O entendimento é que a construção de diretrizes no Programa Nacional do Hidrogênio vai dar segurança jurídica e impedir que investimentos sejam travados por burocracia.
Sem contar com participação presencial do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), ou do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, tendo em vista as críticas na gestão da política ambiental, ontem, 4, falou o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, destacando os planos de “produção” de água potável a partir do tratamento de bacias degradadas e investimento público e privado definidos pelo novo Marco Legal do Saneamento Básico.
O ministro afirmou que o Brasil vai investir R$ 70 bilhões por ano na próxima década a partir da participação de empresas nos leilões de saneamento, esgotamento sanitário e resíduos sólidos urbanos. Apesar da expectativa exposta ao mundo na COP-26, o primeiro edital não atraiu tanta atenção e levantou apenas R$ 67 milhões em projetos abrangendo 250 municípios de dez estados. “No segundo edital, vamos ter uma procura maior”, afirmou.
O protagonismo ficou por conta da comitiva de empresários brasileiros, que defenderam o fim do desmatamento ilegal como passo fundamental para o combate às mudanças climáticas, entre outros projetos, e do Estado do Ceará, que apresentou seu projeto de construção do hub de hidrogênio verde ao mundo.
No Brasil, a avaliação é de que o protagonismo esperado do ente federal não veio, mas os empresários e o Ceará fizeram bom papel. Ao O POVO após participação na Exporecicla 2021, a doutora em Engenharia Civil Laiz Herida, destaca que o Brasil tem a oportunidade de se tornar uma referência mundial na mudança da matriz energética e, com o desenvolvimento de diretrizes, com o Programa Nacional do Hidrogênio, saímos frente e servimos de exemplo.
Laiz, que também CEO da HL Soluções Ambientais e da startup Econexões, que desenvolve estudos e assessoria técnica para regularização ambiental de empreendimentos no Brasil, lembra que, na Espanha, já estão terminando a instalação de uma planta de h2v, mas não há política específica, tratando apenas como uma planta industrial. No Brasil, já temos diretrizes que as principais cadeias da sociedade participam, como governo, regulação, indústria, universidades, além das empresas que vêm com o investimento.
“É uma oportunidade para o País ser referência, até que vemos na COP o Ceará apresentando um projeto cearense em nível global. Esse é o primeiro passo. Está havendo essa preocupação de como fazer e vai servir de escola para o mundo”, destaca.
“O interesse no Ceará é global e essas empresas pedem a área para descarbonizar seus processos, uma coisa que não estão conseguindo nos seus países. Isso automaticamente vai diminuir os impactos climáticos”, afirma Laiz.
Tratando da pauta do meio ambiente, sustentabilidade nos negócios e logística reversa, o Exporecicla 2021 contou com a participação do ativista socioambiental e idealizador do coletivo Nossa Iracema, André Comaru. Palestrando sobre “A importância da reciclagem para a saúde planetária na década dos oceanos”, ele enfatiza que, além da atenção ao desmatamento florestal, é primordial voltar os olhos para os mares, uma vez que apenas 5% de sua extensão é fiscalizada.
Ele critica a falta de um olhar estratégico das nações na preservação da vida marinha e na conservação da limpeza das praias. “O oceano compõem mais de 70% do nosso planeta, é o maior e mais diverso bioma e só protegemos 5% dele”, enfatiza ele, ressaltando ainda o papel da pesca predatória nos oceanos como o desflorestamento azul, ao diminuir de forma muitas vezes devastadora a vida marinha.
Exporecicla 2021
Ainda na abertura do evento, que é promovido pelo Sindicato das Empresas de Reciclagem de Resíduos Sólidos, Domésticos e Industriais no Estado do Ceará (Sindiverde), o presidente da entidade, Mark Augusto, fez o lançamento da cartilha “Reciclador Consciente”, será uma campanha de conscientização da importância de não comprar produtos de origem duvidosa (como cabos de alumínio e cobre, adutoras e partes de hidrômetros) e de combate a ideia de que Reciclador é receptador.
“Quando é roubado um fio, pode prejudicar um bairro todo, residências, comércios, hospitais. Então pensamos nessa solução de educação ambiental, com passo a passo de como proceder, recomendando a não comprar produtos de origem duvidosa”, explica.
Por: OPovo